Atirou a primeira pedra alegando não ter
pecados. O incômodo em momento algum apareceu e não se contentando com o feito
tratou logo de causar mais estragos. A língua afiada como adaga se fincou ao
coração da pobre vítima que em nada se defendia, em nada retrucava.
O que se supõe é
que não se faça caso em teto sagrado e que beatos estão tão próximos de Deus
quanto de sua misericórdia em termos de sentimento pelo próximo. O engano fora
apresentado advindo do discurso da humana sem pecados, o véu que lhe cobria o
rosto caiu ao chão revelando sua face nefasta, prejudicial, tóxica. Via-se o
músculo subir e descer no centro da caverna do diabo que tornava sua boca.
Tornou-se
impossível contrair os pulmões e respirar. Quem estava mais próximo da cobra
peçonhenta sentia a saliva queimar ao pescoço e em outras partes a qual
pousavam.
_ Deus nos livre e
guarde desse e de outros pecados. Persistia com seu discurso funesto. _
Luxúria, avareza, soberba...
Tamanho o
desconforto a vítima reagiu. Um golpe certeiro, cortou-lhe a língua. Não fora cruel o crime, fora unanime, todos os presentes consentiram. Ainda
pensaram na possibilidade de ser um presente, entregar-lhe o silêncio seria um
ótimo embrulho para a paz.
Imobilizada que estava, restava-lhe ouvir o desagradável. Depois fora deixada a sós.
As reflexões foram
emergindo simultaneamente sem dar-lhe tempo para reconsiderar e reformular suas
concepções e atitudes controversas. Não conseguia pronunciar um pedido de
desculpas, estava enterrada em suas angustias e erros. Percebera tarde de mais
que em condição de reles humana estava sujeita ao pecado que tanto alegara não
ter, às armadilhas da vida, ou como preferia dizer, "de satanás".
Restava-lhe agora se aproximar com verdade de Deus e esperar dele sua
misericórdia.