Tinha um corpo inchado.
Na cara um marrom
desbotado
e uma lágrima
pintada de azul.
No canto dos
lábios, vermelho!
Franzia o cenho
amaçado,
e mordia, ficava
enrugado, ficava vermelho.
Dava pirueta,
fazia um rodeio...
um rodeio, um
rodeio...
de pés nos chão,
como se fosse um peão.
Em uma das mãos um
cordão,
noutra punha uma
luva de boxe.
Quem sabe queria
amarrar,
e prender, e
laçar, ou,
matar, sua plateia,
espetacular,
de rir.
E no centro do
picadeiro,
o cara inchado
continuava.
Brincava, corria,
pulava, rodava e gritava;
_Eu sou um
palhaço.
Mas ao final do
espetáculo,
quando as cortinas
em fim se fechavam,
por detrás da lona
turvada, a lágrima azul desbotada
caia e sumia!
O cenho vermelho,
desaparecia, sumia...
a alegria!
E o vermelho do
lábio era sangue, que agonia!
Quantas marcas
trajava? Quantas cicatrizes a tinta cobria?
Disfarçava o cenho
sofrido. Magia,
de quem era mesmo
um peão.
Enquanto girava, a
luva de boxe nas mãos
mostrava que o
palhaço era também guerreiro.
Sabia viver sem
enlouquecer com o mundão.
E a plateia lá
fora, eufórica, impressionada,
sorria, só ria e
esperava
Enquanto o palhaço
pintava seu rosto
de tinta e voltava
para o picadeiro
e brilhava...
Tendo às mãos um cordão e
suas luvas de
boxe. Acrescentando à sua vida dupla
mais um capítulo
de sua história!