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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Espetáculo


Tinha um corpo inchado.
Na cara um marrom desbotado
e uma lágrima pintada de azul.
No canto dos lábios, vermelho!
Franzia o cenho amaçado,
e mordia, ficava enrugado, ficava vermelho.
Dava pirueta, fazia um rodeio...
um rodeio, um rodeio... 
de pés nos chão, como se fosse um peão.
Em uma das mãos um cordão, 
noutra punha uma luva de boxe.
Quem sabe queria amarrar,
e prender, e laçar, ou,
matar, sua plateia, espetacular,
de rir.
E no centro do picadeiro,
o cara inchado continuava.
Brincava, corria, pulava, rodava e gritava;
_Eu sou um palhaço.
Mas ao final do espetáculo,
quando as cortinas em fim se fechavam,
por detrás da lona turvada, a lágrima azul desbotada
caia e sumia!
O cenho vermelho, desaparecia, sumia...
a alegria!
E o vermelho do lábio era sangue, que agonia! 
Quantas marcas trajava? Quantas cicatrizes a tinta cobria?
Disfarçava o cenho sofrido. Magia,
de quem era mesmo um peão.
Enquanto girava, a luva de boxe nas mãos
mostrava que o palhaço era também guerreiro.
Sabia viver sem enlouquecer com o mundão.
E a plateia lá fora, eufórica, impressionada,
sorria, só ria e esperava
Enquanto o palhaço pintava seu rosto
de tinta e voltava para o picadeiro
e brilhava... Tendo às mãos um cordão e 
suas luvas de boxe. Acrescentando à sua vida dupla
mais um capítulo de sua história!

Um comentário:

  1. Que excelente texto, amigo. Num dia apanhamos, no outro temos que demonstrar alegria, no outro força, enfim, é a vida. Abraço.

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